Prevenção Combinada contra o HIV



Em 1981 a humanidade tomou conhecimento de que uma epidemia estava devastando pessoas até então saudáveis. Um vírus novo, chamado de HIV, era capaz de destruir o exército de defesa da pessoa infectada, reduzindo a sua imunidade e tornando-a susceptível a doenças oportunistas graves e raras.

Já em 2015, depois de um imenso avanço da ciência e medicina no combate ao vírus, podemos dizer que temos condições de assumir o controle da situação. Dispomos de um tratamento acessível, eficaz e seguro para as pessoas já soropositivas, que garante uma vida distante das doenças e repleta de saúde e realizações, desde que usado com boa adesão; temos um arsenal de prevenção capaz de contemplar todos os aqueles que se vêem em risco de se infectar; e temos uma vontade política governamental e não governamental direcionada para a expansão de todas essas estratégias, principalmente para aqueles que mais as necessitam.

O controle da epidemia não acontecerá com qualquer uma dessas medidas de maneira isolada, mas com a combinação de todas. A isso se dá o nome de Prevenção Combinada, que em poucas palavras significa tratar de maneira adequada o soropositivo e fazer uma prevenção adequada para o soronegativo.

Para os já infectados pelo HIV utilizamos desde 2013 no Brasil a estratégia do Tratamento como Prevenção (TcP), tratando após o diagnóstico todos os indivíduos soropositivos, em qualquer fase da doença, uma vez que são claros os benefícios do controle medicamentoso da replicação viral tanto para o soropositivo quanto para seus parceiros, já que esse tratamento promove o bloqueio da transmissão do HIV.

Para os soronegativos, a recomendação é que reflitam sobre HIV, que administrem seu risco individual de infecção e que escolham dentro do cardápio da prevenção as estratégias que melhor se adaptam à sua realidade.

O uso do preservativo é sem dúvida a melhor maneira de se proteger, não só do HIV, mas de todas as outras Doenças Sexualmente Transmissíveis e seu uso deve ser estimulado SEMPRE. Mas, se ele não está acontecendo de maneira consistente e regular, o indivíduo deve saber reconhecer que está vulnerável nessas situações de falha da prevenção, e a partir daí procurar encontrar o motivo dessa má adesão à camisinha. Para as situações de falha da prevenção com o preservativo dispomos de ferramentas adicionais chamadas de profilaxias.

Uma pessoa que tem relações sexuais de risco sem preservativo esporadicamente deve saber que existe a Profilaxia Pós Exposição (PEP, da sigla em inglês), esquema antirretroviral que deve ser iniciado em até 72h da exposição e tomado por 28 dias, com eficácia excelente no bloqueio da infecção e poucos eventos adversos. Já o indivíduo que, pelo motivo que for, frequentemente não consegue se proteger usando apenas a camisinha, deve saber que é um candidato ao uso da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP, da sigla em inglês), esquema antirretroviral tomado diariamente, pelo período em que houver a vulnerabilidade, também com eficácia e tolerância excelentes.

Em resumo: diagnosticando e tratando todos os soropopositivos (TcP), impedimos que eles fiquem doentes e que transmitam seus vírus para outras pessoas, e ensinando os soronegativos a reconhecer sua vulnerabilidade ao HIV, quando ela ocorre, e a usar os métodos de prevenção disponíveis (Preservativo, PEP e PrEP) conseguiremos enfim controlar a epidemia de HIV.

Sabemos, no entanto, que apesar de todo esse cenário otimista, o caminho a se percorrer ainda é longo, demandando um esforço pessoal imenso contra o estigma e o preconceito que existe em torno do tema.

Estamos em 2015 e não em 1981. É inadimissível que ainda tenhamos pessoas jovens, até então saudáveis, em plena ascensão pessoal e profissional, morrendo de AIDS porque não foram capazes de se prevenir, de aceitar o diagnóstico, de enfrentá-lo e de realizar o tratamento.

Precisamos falar sobre o HIV.

Precisamos falar sobre prevenção.