Tratamento, Cirurgia e Complicações da Obesidade

obesidade

1 – Quais as complicações da obesidade?

A obesidade pode levar a diversas complicações à saúde. Muitas delas estão relacionadas ao ganho de gordura abdominal e constituem o que denominamos de síndrome metabólica. Os principais componentes dessa síndrome são a glicemia alterada ou diabetes, hipertensão arterial, triglicérides elevado e colesterol HDL (o colesterol bom) baixo. Essas complicações acabam por contribuir na ocorrência da complicação mais importante da obesidade: as doenças cardiovasculares (infarto, angina e acidente vascular cerebral).

O Diabetes mellitus merece um comentário a parte, dado seu grande impacto na morbimortalidade dos pacientes. 50-90% do pacientes com DM tipo II têm sobrepeso ou obesidade. A incidência de diabetes aumenta exponencialmente de

acordo com elevação do IMC. O aumento de diabetes no mundo acompanha o crescimento da obesidade.

Obesidade pode causar acúmulo de gordura no fígado, que chamamos de esteatose hepática, a qual, em alguns casos, pode levar a cirrose ou a insuficiência hepática.

O sobrepeso e obesidade relacionam-se a aumento de incidência de câncer, entre eles: câncer de endométrio, câncer de mama após a menopausa, câncer colorretal, câncer renal e adenocarcinoma de esôfago.

Nos sistema reprodutivo feminino pode levar à irregularidade menstrual, puberdade precoce, menopausa precoce, maior risco de aborto, complicações na gravidez e infertilidade. Enquanto nos homens, é comum a redução da libido. Na parte dermatológica pode causar acanthosis nigricans, com placas escuras hiperpigmentadas, principalmente em pescoço, axilas , face e virilha. Pode ainda causar excesso de pêlos (hirsutismo), acne, celulites, estrias e hiperpigmentação dos MMII por estase venosa.

Outras complicações decorrem da falta de capacidade de adaptação do corpo humano ao excesso de peso, podendo causar ou exacerbar condições comuns em pacientes obesos como: osteoartrose, lombalgia, apnéia obstrutiva do sono, síndrome de hipoventilação do obeso, refluxo gastroesofágico, hérnias, insuficiência venosa crônica, prejuízo da contratilidade do coração e insuficiência cardíaca. É comum piorar exacerbação de asma e doença pulmonar obstrutiva crônica.

É maior também a incidência de cálculos biliares, fenômenos tromboembólicos (trombose venosa profunda), depressão, ansiedade e elevação de ácido úrico.

2- Como tratar a obesidade?

O tratamento da obesidade é complexo. Baseia-se no tripé composto por: mudança no hábito alimentar, atividade física e medicamentos.

A mudança de hábito alimentar ou reeducação alimentar constitui-se no maior desafio do tratamento. O obeso traz consigo hábitos arraigados que, muitas vezes, já tem desde criança. Ele tem uma predileção, sem perceber muitas vezes, por alimentos mais gordurosos ou ricos em açúcar. Está, muitas vezes, dependente do doce e não consegue ficar sem ele. Outra dificuldade, está na origem da própria doença obesidade: o obeso sente realmente fome, sendo difícil ele se adaptar a uma nova realidade, a qual será de quantidades menores do que as que estava acostumado e de aprender optar por alimentos menos calóricos. O acompanhamento do endocrinologista e do nutricionista ajudam ao paciente a aprender a fazer escolhas melhores e a ter moderação na hora de se alimentar. O que muitas vezes ocorre, causando a desistência do tratamento, é a radicalização por parte do paciente. Ele acaba por entrar em “dieta” e passa de um consumo de 5000 calorias ao dia para um consumo de 600 calorias, comendo apenas grelhado e salada e não comendo nada do que gosta. Ele consegue fazer isso por 2 meses, mas isso não se leva para o resto da vida. Logo o paciente desanima e retorna ao hábito que tinha antes da “dieta” e com isso retorna também o peso que havia perdido. Dessa forma, o melhor a se fazer é tentar convencer ao paciente obeso que ele precisa mudar definitivamente e não precisa ser radicalmente. Essa mudança pode ocorrer com moderação.

O mesmo vale para a atividade física. É preciso procurar alguma atividade que seja prazerosa para a pessoa. Algo que ela dará continuidade a longo prazo. Inscrever-se na academia, pagar 1 ano de matrícula, sabendo que você odeia musculação e esteira, é um grande erro. Ocorre a mesma coisa: você vai todos os dias da semana por 1 mês e já não agüenta mais. É preciso se encontrar: na dança, na piscina, no parque, na biciclieta, no tênis, etc. Sempre há uma atividade que se encaixe melhor para você. Com freqüência, há a desculpa da falta de tempo. Mas, quando se quer, todo mundo consegue separar 3 horas na semana para realizar alguma atividade física. Outro ponto importante é o estimulo a atividades rotineiras que gastam energia, como optar por escadas no lugar de elevadores e escadas rolantes, descer dois pontos de ônibus antes para ir caminhando até sua casa, evitar usar controle remoto para TV, limitar o tempo gasto na frente da TV e do computador e evitar usar carro para ir a lugares relativamente próximos de casa.

A chave do sucesso, quando se fala de alimentação e atividade física, é a motivação. Quando a pessoa está motivada os resultados são ótimos. O segredo é não deixar essa motivação acabar. E o profissional que acompanha o paciente obeso também é responsável por isso.

Medicação: dadas as dificuldades existentes nas mudanças de estilo de vida, com freqüência o paciente obeso necessita de medicamentos para ajudar no processo de perda de peso. Existe ainda muito preconceito em relação às medicações para obesidade, por pessoas que não conhecem muito sobre o assunto. Na verdade, uma vez que obesidade é uma doença crônica de difícil controle, é natural que necessitemos de medicações que auxiliem no tratamento. Outra questão freqüente quanto às medicações refere-se ao reganho de peso. É bastante comum um paciente iniciar acompanhamento endocrinológico, tomar uma medicação por 3 meses, perder um pouco de peso e sumir do consultório médico. Como a obesidade é uma doença crônica, se ele não mudou seu estilo de vida definitivamente, com certeza, quando ele voltar terá recuperado seu peso ou terá até mais do que antes. Não por culpa da medicação, mas sim por ser a história natural da doença. Ele apenas retornou a sua curva normal de ganho de peso. Dessa forma, muitas vezes , utilizamos as medicações anti-obesidade a longo prazo e só pensamos em reduzir a dose ou parar quando estamos certo de que as mudanças realizadas na alimentação e na atividade física serão capazes de manter o peso a longo prazo.

Entre as medicações que usamos para controle da obesidade temos: sibutramina, orlistate, fluoxetina, sertralina, bupropiona, topiramato, liraglutide.

3 – Quando está indicado o tratamento cirúrgico?

O tratamento cirúrgico da obesidade está indicado quando há falha no tratamento clínico da obesidade, nos seguintes pacientes:

– pacientes com IMC >40kg/m2

– pacientes com IMC>35kg/m2 com comorbidades

Para cirurgia, deve-se ter como critério a estabilidade psicológica do doente, ou seja, ausência de dependência química, entendimento da proposta cirúrgica e das consequênicias, percepção de que somente a operação não garantirá bons resultados e avaliação psiocológica pré-operatória para seleção dos pacientes.

Dr . Rafael Nardini Queiroz Pergher